Após Lula decretar emergência, mortes em reserva Yanomami sobem em um ano
A Terra Indígena Yanomami documentou 363 óbitos em 2023, superando os 343 registrados em 2022, apesar das medidas tomadas pelo governo federal para abordar a crise humanitária no local. Diante da gravidade da situação, o governo anunciou hoje a criação de um hospital indígena em Boa Vista, sem uma data definida para conclusão, e 22 unidades básicas de saúde, que se espera que sejam entregues ainda este ano.
No ano passado, o governo decretou estado de emergência na Terra Indígena Yanomami devido aos elevados índices de mortalidade, principalmente por malária e desnutrição. Operações foram realizadas para remover garimpeiros, e seis dos sete polos-base no território Yanomami foram reabertos. No entanto, o governo reconheceu que essas ações não foram suficientes para resolver a crise.
“O ano de 2023 não foi o bastante para resolver toda a situação na presença do garimpo, com cerca de 30 mil garimpeiros diretamente no território, causando danos e violência aos indígenas, e impedindo o acesso das equipes de saúde. Agora, passamos de ações emergenciais para ações permanentes com a instalação da Casa de Governo em Boa Vista”, afirmou a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.
Mesmo removendo cerca de 80% dos garimpeiros ilegais no ano passado, parte deles retornou no início de 2024, um ano após o estado de emergência.
O governo não forneceu o número atualizado de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami. As atividades de garimpo contaminam os rios, afetam os animais utilizados na alimentação dos indígenas e facilitam a propagação da malária. Esses fatores contribuem para o elevado número de mortes entre os indígenas.
As autoridades afirmam que a quantidade real de óbitos em 2023 pode ser maior, pois as ocorrências podem estar subnotificadas devido à dificuldade dos profissionais de saúde em alcançar todas as localidades. Além disso, os rituais de cremação dos Yanomami podem dificultar o registro dos óbitos.
Esses fatores levam a crer que os dados de 2022 também não são precisos, já que a maioria dos polos-base de saúde estava fechada, impedindo a notificação dos óbitos. A expectativa é que em 2022 tenha havido mais do que as 343 mortes registradas.
“Tínhamos sete polos fechados; sem profissionais de saúde, as mortes não eram registradas, e as informações não entravam no sistema. Consideramos 2023 como o marco zero”, explicou a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel. “Embora haja subnotificação, agora temos um diagnóstico da situação no território.”
Diante da lacuna nos dados, o governo realizará em 2024 um Inquérito de Saúde Indígena em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para corrigir as distorções.
Segundo o secretário de saúde indígena, Weibe Tapeba, enquanto o IBGE mapeou 27,1 mil indígenas no Censo, os dados do Ministério da Saúde indicam 31 mil no território Yanomami.
O Ministério da Saúde aumentou em 53% o número de profissionais de saúde no território, passando de 690 para 1.058 entre 2022 e 2023. O número de médicos também cresceu de 9 para 28. A pasta também aplicou 59 mil doses de vacina nos indígenas.
Ainda não há previsão de custos ou prazo para a conclusão do hospital indígena em Boa Vista, mas a expectativa é que as obras comecem neste ano.
O secretário explicou que o Ministério da Saúde deve firmar parceria com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebeserh) e a Universidade Federal de Roraima (UFRR) para implantar a unidade.
“Temos um protocolo para assistência hospitalar, considerando as particularidades dos indígenas, como intérpretes e um modelo de assistência diferenciado. Estamos dialogando com a população indígena para desenvolver um projeto de hospital indígena que atenda às necessidades dos Yanomami e dos hospitais indígenas de Roraima”, explicou Tapeba.
Fonte: AM POST
Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto